Tensão no Caribe leva aumento de venezuelanos no Brasil; EUA intensificam operações militares na região
Desde agosto, fluxo de imigrantes cresce em Roraima enquanto Washington realiza ataques a embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico

A mobilização militar dos Estados Unidos na América Latina, iniciada há quatro meses pela administração de Donald Trump com o objetivo de combater o chamado “narcoterrorismo” no Caribe, coincide com um aumento expressivo de venezuelanos entrando no Brasil. A região visada pelas forças norte-americanas inclui áreas próximas à costa da Venezuela, governada por Nicolás Maduro.
Segundo dados do Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), quase 148 mil venezuelanos ingressaram no Brasil entre janeiro e setembro de 2025, mas apenas 71.620 registros de saída foram contabilizados. Os estados do Norte, especialmente Roraima, são os principais destinos, com 74.172 entradas registradas no período.
Ações militares dos EUA
Em agosto, o Pentágono enviou navios de guerra e cerca de 4 mil militares para o Caribe, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford e caças F-35. Desde então, os números de entrada de venezuelanos no Brasil dispararam: 13.138 em agosto e 18.525 em setembro, coincidindo com os primeiros ataques norte-americanos contra embarcações suspeitas de tráfico internacional.
Washington justifica a presença militar alegando combate a cartéis de drogas, agora classificados como “organizações terroristas”. Entre os alvos estão grupos como o cartel venezuelano de Los Soles, que os EUA acusam de ter ligação direta com o governo Maduro. Até o momento, 20 ataques já foram realizados no Caribe e no Pacífico, sem que provas concretas tenham sido apresentadas publicamente.
Em novembro, o presidente Trump ordenou o início de uma operação militar ampliada na América Latina, chamada “Lança do Sul”, com foco em “narcoterroristas”.
Impacto humanitário e migratório
O aumento do fluxo de venezuelanos também se refletiu nos pedidos de refúgio, que atingiram 15.965 solicitações entre agosto e setembro. O programa Operação Acolhida, criado em 2018 para acolher imigrantes em Pacaraima e Boa Vista (RR), registrou 15,3 mil pessoas buscando auxílio humanitário nesse período.
O MJSP, responsável por acompanhar a situação, afirmou que monitora permanentemente a entrada de venezuelanos e garante a documentação e regularização por meio de órgãos e programas federais. O ministério ressaltou que o aumento de entradas não representa anormalidade, tratando-se de um comportamento recorrente desde 2022, especialmente nos meses de agosto a novembro.
No total, 79.613 venezuelanos entraram no Brasil nos quatro meses posteriores à polêmica eleição na Venezuela, em que Maduro foi reeleito, apesar de contestações internas e internacionais.
Foto: Victor Moriyama/Getty Images

