PF conclui inquérito da “Abin Paralela” e indicia Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Alexandre Ramagem
Investigação aponta espionagem ilegal com uso de software para monitorar autoridades, jornalistas e opositores políticos

A Polícia Federal (PF) concluiu, nesta terça-feira (17), o inquérito sobre a existência de uma estrutura clandestina de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foram indiciados no caso o próprio Bolsonaro, seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, além de mais de 30 pessoas, incluindo integrantes da atual cúpula da agência.
A investigação, que durou cerca de dois anos, aponta que o grupo usou o software de geolocalização FirstMile para monitorar ilegalmente autoridades, jornalistas, opositores políticos e até aliados. O relatório final da PF, com mais de 800 páginas, já foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), que encaminhará o documento à Procuradoria-Geral da República (PGR). Caberá à PGR decidir se oferece denúncia contra os indiciados. Se a denúncia for aceita pelo STF, os envolvidos se tornarão réus.
Segundo a PF, houve conluio entre a antiga e a atual gestão da Abin para impedir que os monitoramentos ilegais fossem descobertos. O programa FirstMile teria sido utilizado mais de 60 mil vezes entre 2019 e 2023, com pico de acessos em 2020, ano de eleições municipais.
O inquérito se desenvolveu em cinco fases, incluindo as operações “Última Milha”, que teve como alvo principal Ramagem, e “Vigilância Aproximada”, deflagrada em janeiro de 2024, quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-diretor da Abin.
A PF também apurou tentativas de obstrução da investigação por parte de alguns dos envolvidos, o que poderá agravar a situação judicial dos indiciados.
A expectativa agora se volta para a análise da PGR, que decidirá o rumo judicial do caso, que pode se tornar um dos processos mais emblemáticos do pós-governo Bolsonaro.