Milei surpreende e vence eleições legislativas na Argentina após ajuda de Trump e ajuste fiscal

O presidente argentino Javier Milei obteve uma vitória expressiva nas eleições legislativas deste domingo (26), contrariando previsões e consolidando sua força política a menos de dois anos no cargo.

Com quase todas as urnas apuradas, o partido La Libertad Avanza (LLA) conquistou cerca de 41% dos votos, tornando-se o mais votado do país e ampliando significativamente sua bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. A partir de dezembro, Milei terá 101 deputados (atualmente são 37) e 20 senadores (eram 6), o que lhe garante poder de veto sobre leis aprovadas pelo Congresso.

“Hoje passamos um ponto de inflexão; começa a construção de uma grande Argentina. Nos próximos dois anos precisamos consolidar o caminho reformista”, declarou Milei em discurso após o pleito.

Vitória inesperada em meio à crise

O resultado surpreendeu analistas, já que o governo vinha enfrentando forte desgaste por conta do ajuste fiscal severo e de escândalos políticos, incluindo o lançamento de uma criptomoeda suspeita e a renúncia de um candidato ligado ao narcotráfico.

Apesar disso, a inflação caiu de 25% ao mês, em dezembro de 2023, para cerca de 2% atualmente, e o país registrou o primeiro superávit orçamentário em mais de uma década. O índice de pobreza também caiu 10 pontos percentuais no primeiro semestre de 2025.

Para especialistas, esses resultados econômicos ajudaram Milei a manter apoio popular.

“As pessoas decidiram manter o crédito aberto para mudar a abordagem da economia”, afirmou o analista político Orlando D’Adamo à BBC News Mundo.

O papel dos jovens e a ausência de alternativas

Segundo a consultora política Lara Goyburu, metade dos eleitores argentinos tem menos de 39 anos — faixa que mais apoia o governo. “Essa geração cresceu vendo seus pais reclamarem da política tradicional. Milei ainda representa o antissistema”, explica.

A oposição, por outro lado, apostou em nomes antigos e sem propostas claras, o que, para analistas, favoreceu a reeleição simbólica do projeto liberal. A abstenção foi de 32%, o maior índice em eleições legislativas em mais de uma década.

Trump e o apoio dos EUA

Durante a crise cambial de 2024, Milei contou com apoio direto do governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump. Washington abriu uma linha de swap de US$ 20 bilhões e comprou US$ 1 bilhão em pesos argentinos, medida que ajudou a estabilizar o câmbio.

Trump, que condicionou o apoio à vitória eleitoral de Milei, comemorou o resultado.

“Os EUA nunca ofereceram ajuda de tal magnitude”, disse o presidente argentino, agradecendo publicamente ao aliado norte-americano.

Desafios à frente

O principal desafio de Milei será moderar seu discurso e construir alianças no Congresso para aprovar suas reformas. A oposição peronista, liderada por Axel Kicillof, disse que “seis em cada dez argentinos ainda discordam do modelo de Milei”, mas reconheceu o avanço do governo nas urnas.

Mesmo sem maioria absoluta, Milei sai fortalecido politicamente e com mais espaço para avançar em sua agenda liberal.

Foto: Getty Images