João Pessoa: o homem, o símbolo e a morte que incendiou o Brasil de 1930
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João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu em 24 de janeiro de 1878, no município de Umbuzeiro, interior da Paraíba. Sobrinho do ex-presidente Epitácio Pessoa, formou-se em Direito no Recife e construiu uma carreira marcada por sobriedade e firmeza, atuando como juiz, promotor e professor antes de ingressar na política.
Em 1928, assumiu a presidência da Paraíba — cargo equivalente ao de governador — e ficou nacionalmente conhecido por seu estilo austero e implacável contra privilégios e práticas coronelistas, enfrentando diretamente os grupos políticos tradicionais do interior.
Combate à corrupção e guerra contra os coronéis
Durante sua gestão, João Pessoa implementou cortes salariais, reduziu gastos públicos e comprou brigas com setores influentes. Um dos principais alvos foi o coronel José Pereira Lima, da cidade de Princesa Isabel, apoiado pelo ex-governador João Suassuna. O conflito local ganhou dimensão estadual, com a formação da chamada “chapa dos três jotas” — José Pereira, Júlio Lyra e José Queiroga — que tentava garantir o controle da sucessão estadual.
A tensão se agravou com o apoio de Epitácio Pessoa, que lançou o sobrinho como a figura capaz de romper com o domínio desses grupos. O resultado foi a Revolta de Princesa, uma verdadeira guerra civil local que ampliou a instabilidade no estado.
A humilhação de João Dantas
Entre os opositores estava João Dantas, advogado ligado a Zé Pereira. Em meio à repressão, seu apartamento foi invadido pela polícia paraibana e correspondências íntimas trocadas com sua companheira, a professora Anayde Beiriz, foram apreendidas e publicadas em jornais. A exposição pública do conteúdo pessoal causou indignação e humilhação irreparável a Dantas, que já era alvo político do governo.
O assassinato em Recife
No dia 26 de julho de 1930, em meio à crescente tensão política no país, João Pessoa foi assassinado por João Dantas na Confeitaria Glória, no centro do Recife. Apesar das motivações pessoais e regionais, a morte rapidamente ganhou caráter simbólico e político, sendo explorada pela Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas, como combustível para a Revolução de 1930.
Mortes suspeitas e a origem de um símbolo
Poucos dias após o assassinato, João Dantas e seu cunhado Moreira Caldas foram encontrados mortos na Casa de Detenção do Recife. A versão oficial indicava suicídio, mas versões históricas apontam para possível execução sumária, atribuída a agentes da repressão política da Paraíba.
Em resposta ao crime, o então município de Parahyba foi rebatizado como João Pessoa, em homenagem ao governador assassinado. A bandeira da Paraíba também foi modificada, passando a exibir a palavra “NEGO”, uma referência à negativa de João Pessoa em apoiar a candidatura de Júlio Prestes à Presidência da República.
Legado histórico
A morte de João Pessoa não apenas abalou o cenário político local, mas teve impacto direto na derrocada da República Velha. O episódio acelerou os eventos que culminaram na deposição de Washington Luís e na ascensão de Vargas ao poder, iniciando uma nova era na política brasileira.
Mais que um nome de capital, João Pessoa tornou-se um símbolo nacional de enfrentamento ao conservadorismo político, à corrupção e ao mandonismo regional — e sua trajetória permanece como um dos episódios mais marcantes da história do Brasil.