Brasil

Inadimplência no Fies bate recorde e MEC estuda mudanças no programa

Mais de 60% dos contratos têm parcelas em atraso; governo quer atrelar pagamento à renda do egresso e oferecer apoio social ao estudante

A inadimplência no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) atingiu o maior nível da história: 61,5% dos contratos apresentavam parcelas em atraso em abril de 2025, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). O índice corresponde a um universo de 2 milhões de contratos ativos. Em 2014, a inadimplência era de 31%.

O salto alarmante acende um sinal vermelho sobre a sustentabilidade do programa, que já enfrenta queda de atratividade: em 2018, 82% das vagas ofertadas foram preenchidas; em 2024, o índice caiu para 39%.

Causas da crise

Desde 2015, o Fies passou por reformulações que restringiram o acesso ao financiamento, reduzindo bolsas integrais e impondo novas exigências. A mudança visava conter os altos gastos da época do governo Dilma Rousseff, quando o programa chegou a registrar 733 mil novos contratos em 2014. Em 2024, foram apenas 44 mil novas adesões.

Apesar da tentativa de tornar o Fies autossustentável, com recém-formados pagando suas dívidas para financiar novos alunos, a inadimplência e o abandono do programa frustraram o objetivo.

O MEC identificou que a coparticipação obrigatória — parte da mensalidade paga durante o curso — tem afastado candidatos ainda na etapa de inscrição. Já o saldo devedor total com o governo federal chega a R$ 116 bilhões.

Mudanças em estudo

Diante do cenário crítico, o MEC estuda um modelo de pagamento vinculado à renda do ex-aluno. A ideia é que quem ganha um salário mínimo (R$ 1.518) pague 8% da renda mensal, enquanto quem recebe acima do teto do INSS (R$ 8.157,41) pague 13%. Não há previsão de quando o novo modelo será implementado.

Outra proposta é incluir apoios sociais, como auxílios para moradia, transporte e alimentação, especialmente para estudantes de baixa renda. O MEC também pretende incentivar cursos com alta demanda de mercado, como licenciaturas e tecnologias da informação.

“Se ofertar só a vaga, esse estudante, pelo perfil socioeconômico, não permanece”, afirmou Adilson de Carvalho, diretor de Políticas e Programas de Educação Superior do MEC.

Renegociações e comunicação

Nos últimos dois anos, o governo promoveu incentivos à renegociação de dívidas antigas. Até 2024, foram 389 mil contratos repactuados, com arrecadação de R$ 800 milhões apenas com os pagamentos iniciais.

O MEC reconhece ainda um desafio de comunicação, principalmente com as novas gerações, que estão mais envolvidas com redes sociais e menos convencidas da importância do ensino superior. “Há certo desencanto com a educação superior. No mundo inteiro, a procura tem caído – aqui no Brasil, especialmente”, disse Carvalho.

Ensino a distância e novas diretrizes

O MEC também avalia a possibilidade de ampliar o Fies para cursos a distância (EAD). O setor privado cobra apoio para áreas como Enfermagem, que teve a oferta EAD proibida por decreto federal. Atualmente, cerca de 193 mil estudantes estão matriculados nessa modalidade e poderão concluir seus cursos, mas novas turmas só poderão funcionar de forma presencial.

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