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Fraude no INSS: aposentados contestam documentos falsos usados por associação para justificar descontos indevidos

Mais de 176 mil beneficiários já questionaram descontos feitos sem autorização. Casos incluem uso de áudios de outras pessoas, endereços errados e documentos forjados.

Uma onda de fraudes envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS tem revoltado milhares de beneficiários em todo o Brasil. Pelo menos 176 mil vítimas já estão contestando documentos enviados por entidades associativas como justificativa para as cobranças — entre elas, a AMBEC (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos).

Um dos casos mais emblemáticos é o do aposentado Antonio Carlos Nunes, que denunciou descontos feitos em 2023 pela AMBEC. Ao questionar a cobrança, Antonio recebeu documentos com seu CPF, mas em nome de outra pessoa: Lindomar. A gravação usada como “prova” de autorização também apresentava outra voz e nome.

“No meu caso, era um erro tão grotesco, com o nome de uma pessoa diferente. Isso nem deveria ter sido autorizado”, afirmou Antonio.

A equipe do Jornal Nacional localizou o verdadeiro Lindomar, que confirmou a voz no áudio, mas denunciou que ela foi utilizada indevidamente:

“Foi clonado de um desbloqueio de cartão. Eles pegaram isso e usaram nessa entidade aí. Eu jamais autorizei desconto no meu salário de aposentado”, disse ele.

A situação se repete em outras famílias. A representante legal de um aposentado por invalidez, Cláudia Nogueira, conta que tentou cancelar os descontos, mas enfrentou dificuldades. Mesmo após as denúncias virem à tona, os descontos continuaram sendo aplicados.

“Eles alegavam contrato irrecusável por um ano. Só que no mês passado ainda veio desconto”, desabafa Cláudia. O áudio que justificaria a autorização de Helton — seu marido — era, na verdade, de uma mulher desconhecida.

Em muitos casos, os endereços apresentados nas documentações também não batem com os dos beneficiários. Apartamentos constam como ocupados por pessoas que nunca moraram no local.

🛑 INSS reage e promete sanções

O presidente do INSS, Gilberto Waller, afirmou que, pela primeira vez desde 1994, o órgão está realizando uma fiscalização efetiva das entidades que fazem descontos diretamente nos benefícios.

“Se for comprovado o uso de documentos falsos ou informações inverídicas, a entidade será responsabilizada criminal e civilmente”, declarou Waller.

Segundo ele, o INSS poderá pagar os segurados prejudicados e, posteriormente, buscar o ressarcimento das entidades fraudulentas.

🔎 O que fazer se você foi vítima?

A diretora do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, Andreia Rossi, orienta que os beneficiários que identificarem descontos não autorizados:

  • Façam contestação no aplicativo Meu INSS, pelo telefone 135, ou diretamente nos Correios;
  • Denunciem o caso à Previdência e à Polícia, especialmente quando houver documentos ou áudios falsos;
  • Registrem boletim de ocorrência, pois o uso indevido de identidade configura crime.

“Estão dizendo que é o aposentado quem autorizou, mas não foi. Isso precisa ser investigado com rigor”, pontua Rossi.

A defesa da AMBEC declarou que utiliza empresas terceirizadas para filiar associados e que não se responsabiliza por erros nos documentos enviados ao INSS. Questionada, a associação não enviou os comprovantes solicitados dos casos de Antonio e Helton.

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