Fachin e o desafio de restaurar a confiança no STF

Como cristãos, cremos no perdão e na remissão dos pecados. O discurso de posse do novo presidente do STF, ministro Edson Fachin, soou como um gesto de contrição. Ao falar em autocontenção e afastamento da militância política, sinalizou o desejo de pacificar a Nação e resgatar a missão da Corte como guardiã da Constituição.
Fachin prometeu decisões colegiadas, o que, na prática, significaria o fim dos atos monocráticos — medidas que abriram caminho para abusos e alimentaram o ativismo judicial. Esses excessos levaram inclusive à imagem internacional de que o Brasil vive sob uma ditadura juristocrática, como apontou o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio, ao colocar nosso país no “eixo do mal” ao lado de regimes autoritários.
Mas o passado de Fachin não pode ser esquecido. Foi relator da Lava Jato, permitiu que fosse sepultada e soltou Lula por decisão individual, abrindo caminho para sua candidatura em 2022. Presidiu o TSE e barrou as Forças Armadas de inspecionar integralmente as urnas. Nomeado por Dilma Rousseff, afastou Eduardo Cunha de forma questionável, ao mesmo tempo em que endossou a prisão de Delcídio do Amaral, numa contradição jurídica ainda lembrada.
O grande teste de Fachin será lidar com os inquéritos políticos que corroem a credibilidade do Supremo. A revisão das condenações de 8 de janeiro e o fim do chamado “inquérito do fim do mundo” serão decisivos para mostrar se de fato haverá mudança de postura.
Se conduzir o STF de volta aos trilhos constitucionais, Fachin terá a chance de reescrever sua história, recuperar a imagem da Corte e ser lembrado como alguém que salvou — e não que deformou — a democracia brasileira.