Ex-assessor acusa Alexandre de Moraes de fraude em investigação contra empresários
Eduardo Tagliaferro afirma que ministro do STF usou vazamento seletivo para justificar ações da PF durante as eleições de 2022

O ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, acusou nesta terça-feira (2) o magistrado de ter cometido uma “fraude processual gravíssima” durante a investigação de oito empresários apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.
Em depoimento à Comissão de Segurança Pública do Senado, Tagliaferro afirmou que Moraes teria vazado, por meio de seu gabinete, mensagens privadas extraídas de um grupo de WhatsApp dos empresários a um site de notícias em Brasília. A reportagem, publicada em 17 de agosto de 2022, expôs conversas nas quais os empresários demonstravam apoio a um possível golpe militar e rejeição à vitória do presidente Lula (PT).
Segundo o ex-assessor, a reportagem teria sido utilizada como justificativa inicial para que Moraes determinasse, dois dias depois, buscas e apreensões contra os empresários, além do bloqueio de contas bancárias e perfis em redes sociais, quebra de sigilos e outras medidas. As ações da Polícia Federal foram cumpridas em 23 de agosto.
Acusações de manipulação processual
Tagliaferro declarou que, após críticas públicas sobre a fragilidade da fundamentação da decisão judicial — centrada apenas na reportagem — Moraes teria incluído novos elementos ao processo. Esses documentos, porém, teriam sido produzidos apenas entre os dias 26 e 28 de agosto, ou seja, após as ações da PF.
O ex-assessor diz ter sido o autor do material adicionado, sob orientação do juiz auxiliar Airton Vieira, aliado de Moraes. Entre os documentos estariam organogramas ligando os empresários a um suposto “núcleo financeiro” de apoio a atos antidemocráticos.
“Foi pedido por Airton Vieira para que se construísse uma história”, afirmou Tagliaferro, sugerindo que os documentos foram inseridos no processo apenas para justificar, retroativamente, as decisões já tomadas por Moraes.
Moraes sob pressão
No dia 29 de agosto de 2022, sob pressão, Moraes retirou o sigilo da investigação. Os documentos públicos passaram então a conter os novos materiais produzidos posteriormente, o que levantou suspeitas sobre a cronologia e a legitimidade das provas apresentadas.
O depoimento de Tagliaferro ocorre no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado. Moraes é o relator do caso no STF.
Parte da oitiva no Senado foi conduzida por videoconferência pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, o que reforça o tom político da acusação.
Até o momento, Moraes e o STF não se manifestaram publicamente sobre as declarações.