Declaração polêmica de Lula na Paraíba ofusca inauguração de obra e gera desconforto até na militância

A recente passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Paraíba, marcada pela inauguração de uma etapa das obras do sistema Apodi, poderia ter sido lembrada como um feito importante para o Nordeste. No entanto, o destaque que deveria recair sobre o avanço da transposição de águas acabou sendo eclipsado por uma declaração polêmica feita pelo presidente durante seu discurso.

“Descobri uma coisa. Deus deixou o Sertão sem água porque ele sabia que eu ia ser presidente da República e que eu ia trazer água para cá”, disse Lula, em uma fala que repercutiu negativamente até mesmo entre apoiadores mais próximos.

Em uma região profundamente marcada pela religiosidade cristã, a declaração foi recebida com desconforto, soando desrespeitosa para muitos. A comparação com Deus foi considerada despropositada, destoando do tom institucional que se esperava em uma cerimônia de inauguração de obra pública.

A fala surge em um momento de queda na popularidade do presidente, agravada por recentes desgastes enfrentados pelo governo, como as denúncias de descontos indevidos nos benefícios de aposentados via INSS, confusão envolvendo o Pix e o aumento do IOF. Soma-se a isso o protagonismo controverso da primeira-dama Janja Lula da Silva, que tem acumulado episódios polêmicos, como o episódio na China envolvendo tentativa de censura ao TikTok — ações que também geram ruídos dentro do próprio governo.

O episódio traz à tona um contraste inquietante na política brasileira recente. De um lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro se colocava como “mito”. Do outro, Lula agora se coloca, ainda que em tom de bravata, como uma espécie de figura escolhida por Deus para resolver os problemas do Nordeste. O simbolismo dessas declarações reflete um cenário político cada vez mais teatralizado, mas pouco eficaz em gerar empatia com uma população marcada pela desesperança e pelo cansaço diante das crises sucessivas.

No fim das contas, a visita presidencial à Paraíba, que poderia ter consolidado uma imagem de trabalho e entrega, terminou marcada por uma frase infeliz — um tropeço que pode custar caro num momento em que a imagem pública do presidente precisa de recuperação e sobriedade.