Assessor de Hugo Motta atuou em entidade investigada por fraude com descontos no INSS
Nome ligado ao presidente da Câmara coordenou captação de filiados durante período de maior arrecadação da Conafer, alvo da PF por suposto esquema bilionário

Um assessor ligado ao atual presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), ocupou cargo de direção na Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais), entidade investigada pela Polícia Federal por participação em um esquema de descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões do INSS.
Jerônimo Arlindo da Silva Júnior, conhecido como Junior do Peixe, foi assessor no gabinete de Motta entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021. No mesmo período, atuava como diretor de assuntos institucionais da Conafer, segundo registros oficiais. A PF investiga se associações como a Conafer realizaram filiações sem autorização dos beneficiários, permitindo descontos indevidos diretamente na folha de pagamento do INSS. A operação “Sem Desconto” identificou repasses de R$ 6,3 bilhões a 13 entidades entre 2019 e 2024.
A Conafer foi a segunda maior beneficiada, com cerca de R$ 484 milhões, atrás apenas da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), que recebeu R$ 2,1 bilhões.
Atuação direta em captação de filiados
Um ofício assinado por Junior do Peixe em dezembro de 2020 mostra que ele coordenava um grupo responsável por coletar fichas de filiação de beneficiários do INSS. No mesmo documento, ele recebeu poderes para representar a Conafer em ações judiciais, inclusive envolvendo denúncias de fraudes.
Durante o período em que ele atuou na confederação, a arrecadação da entidade deu um salto expressivo: de R$ 350 mil em 2019 para R$ 57 milhões em 2020. O crescimento seguiu nos anos seguintes, atingindo R$ 202,3 milhões em 2023.
Ligação política e atuação eleitoral
Em 2024, Junior do Peixe se filiou ao Republicanos e foi candidato a vice-prefeito de Marizópolis (PB), cidade onde coordenou a campanha local apoiada por Hugo Motta. Apesar da conexão política, nem o deputado nem o ex-assessor responderam aos pedidos de esclarecimento feitos pela imprensa.
Investigações e omissão em bloqueio de bens
Das 13 entidades que receberam recursos do INSS, 11 estão sob investigação da PF e da CGU (Controladoria-Geral da União). A AGU (Advocacia-Geral da União) pediu o bloqueio de até R$ 2,56 bilhões em bens dessas associações. A Conafer e a Contag, no entanto, ficaram de fora por, segundo o governo, não terem desobedecido decisões judiciais relacionadas aos descontos.
A operação da PF também identificou indícios de fraudes, como falsificação de assinaturas e uso indevido de dados de idosos. Várias fichas analisadas teriam sido assinadas por beneficiários que negam qualquer vínculo com as entidades.
Pedido de CPI barrado por Motta
Diante do escândalo, parlamentares da oposição solicitaram a abertura de uma CPI para investigar os descontos indevidos. O pedido está parado no gabinete de Hugo Motta, que alegou haver 11 pedidos de CPI na fila, sendo que apenas cinco podem funcionar simultaneamente. Ele afirmou que uma definição será feita após negociação com líderes partidários.