Paraíba

Tragédia do Zoológico Reabre Debate sobre Doença Mental e Falhas do Sistema de Saúde

A morte de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho, de 19 anos, ocorrida no último domingo após ele invadir o recinto de uma leoa em um zoológico de João Pessoa, ganhou repercussão nacional devido às circunstâncias dramáticas do episódio. Até então, Gerson aparecia apenas como um jovem já registrado pela polícia por pequenos delitos cometidos desde cedo, trajetória que o levou a frequentes passagens por unidades destinadas a menores infratores.

Com a tragédia, vieram à tona aspectos de sua vida que permaneciam desconhecidos do grande público. Gerson apresentava transtornos mentais graves, era filho de uma mãe esquizofrênica e teve quatro irmãos adotados por outras famílias. Ele cresceu sob os cuidados da avó, em condições bastante vulneráveis, a ponto de policiais penais prestarem ajuda financeira em determinado momento. Seu histórico aponta para condutas que, muito provavelmente, estavam relacionadas ao quadro de saúde mental.

O caso reacendeu discussões sobre o movimento antimanicomial e suas consequências práticas. A desativação de antigos manicômios no país, embora tenha buscado corrigir abusos, deixou uma lacuna no acompanhamento de pacientes que necessitam de cuidados contínuos e especializados. Parte desses indivíduos acaba exposta às ruas ou ao sistema prisional, onde o tratamento é insuficiente ou inexistente.

Em seu livro publicado em 2019, Monte Santo: A Casa de Detenção de Campina Grande, o autor relata situações semelhantes à de Gerson, envolvendo presos com transtornos mentais graves que jamais deveriam ter sido recolhidos a unidades comuns. Um desses casos envolve um detento conhecido como Pantaleão, que tentou tomar a arma de um policial penal dentro do Serrotão e, anos depois, já em liberdade, repetiu a ação contra um policial militar em Campina Grande, episódio que terminou com sua morte.

Essas situações reforçam o alerta sobre decisões políticas guiadas por pressões momentâneas, e não por critérios científicos. Encerrar estruturas manicomiais sem a criação de alternativas adequadas tem resultado em episódios de grande gravidade social.

A discussão se conecta a outro movimento que atua no país, a Agenda Nacional pelo Desencarceramento, que defende medidas como a suspensão de recursos para novas unidades prisionais. Embora o objetivo seja reduzir a superlotação carcerária, as propostas levantam dúvidas sobre a viabilidade de sua aplicação diante da realidade cotidiana da segurança pública brasileira.

A morte de Gerson, jovem com 16 registros policiais e histórico de perturbações recorrentes, é agora apontada por policiais como um exemplo das falhas estruturais que os obrigam a lidar, muitas vezes sozinhos, com situações que deveriam ser conduzidas por profissionais de saúde mental. A frase recorrente entre agentes resume a sensação: na ausência de atendimento especializado, chamam-se homens armados.

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