Brasil

Navio hospitalar chinês provoca impasse diplomático no governo brasileiro

Pedido de atracação do Ark Silk Road no Rio de Janeiro em janeiro de 2026 causa desconforto entre Itamaraty e Marinha

Um pedido aparentemente rotineiro transformou-se em um dilema diplomático dentro do governo brasileiro. A solicitação, feita pela Embaixada da China, pede autorização para que o navio hospitalar Ark Silk Road, pertencente à Marinha do Exército Popular de Libertação da China, atraque no Porto do Rio de Janeiro entre 6 e 13 de janeiro de 2026.

O pedido, encaminhado ao Itamaraty em 15 de setembro, não explica o motivo da parada e apenas informa que não serão realizadas atividades de pesquisa nem o uso de equipamentos de radiotransmissão — o que gerou desconfiança entre diplomatas e oficiais da Marinha.

O navio integra a “Harmony Mission 2025”, uma missão humanitária de 220 dias que percorre 12 países em quatro continentes. A operação é vista como parte da estratégia de “soft power” da China, que busca ampliar sua influência global por meio de ações médicas e diplomáticas.

O Ark Silk Road já passou por países do Pacífico Sul, como Fiji e Tonga, e deve seguir para México, Jamaica, Barbados, Brasil, Peru e Chile. A embarcação tem 14 departamentos clínicos, 389 tripulantes e capacidade para mais de 60 tipos de cirurgias.

Apesar do caráter humanitário, fontes militares classificam a situação como “delicada”, já que a presença do navio chinês ocorre em meio à disputa de influência entre China e Estados Unidos na América Latina.

Coincidentemente, um navio norte-americano, o Ronald H. Brown, deve atracar no Porto de Suape (PE) entre 14 e 21 de janeiro, quase simultaneamente à visita chinesa — o que reforça o simbolismo geopolítico do episódio.

Segundo o cientista político Maurício Santoro, do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, o Brasil enfrenta um “teste diplomático”:

“Recusar o pedido pode soar como desconfiança, mas aceitá-lo sem restrições pode parecer submissão”, afirma.

Enquanto o Itamaraty analisa o impacto político, a Marinha avalia critérios técnicos e de segurança. Por ora, ambos os órgãos mantêm silêncio público e tratam o caso com discrição, buscando equilibrar pragmatismo econômico e segurança nacional diante do novo embate entre as potências globais.

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