Brasil cobra liberação de vistos para delegação da ONU a uma semana da Assembleia Geral
Itamaraty pressiona EUA por cumprimento de acordo com a ONU; vistos para parte da comitiva brasileira e autoridades palestinas seguem pendentes

A menos de uma semana do início da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o governo brasileiro ainda aguarda a liberação de vistos por parte dos Estados Unidos para integrantes da delegação que acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Nova York. O evento acontece de 22 a 26 de setembro, com o tradicional discurso de abertura feito pelo chefe de Estado brasileiro no dia 23.
Apesar de o visto do presidente Lula estar regularizado, outros membros da comitiva que nunca viajaram aos EUA ainda não receberam autorização para entrar no país. O Itamaraty afirmou que foi informado pelo governo americano de que os vistos estão “em vias de processamento”, mas não há garantia de aprovação.
“Não temos como especular sobre o resultado desse processamento”, disse nesta segunda-feira (15) o diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty, Marcelo Marotta Viegas.
Na semana passada, a agência Associated Press divulgou o vazamento de um memorando do Departamento de Estado dos EUA, que indicaria uma possível política de restrição de vistos a delegações do Brasil, Irã, Sudão e Zimbábue — medida atribuída ao governo do ex-presidente Donald Trump. A iniciativa seria uma retaliação indireta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), interpretada como ofensiva por setores da política norte-americana.
O Brasil expressou preocupação formal ao comitê da ONU responsável pelas relações com o país-sede. Embora os EUA sejam sede da organização, estão vinculados por acordos internacionais que proíbem a restrição de vistos a representantes oficiais dos Estados-membros — mesmo nos períodos de maior tensão diplomática, como durante a Guerra Fria.
“Qualquer medida que viole esse acordo é ilegal, embora isso não signifique que tais violações não possam ocorrer”, alertou o representante do MRE.
Vistos palestinos também foram suspensos
O caso brasileiro ocorre em paralelo à suspensão dos vistos da Autoridade Palestina e de seu presidente, Mahmoud Abbas, também imposta pelos EUA. A medida foi criticada por representantes da ONU e pode comprometer a participação de líderes palestinos na assembleia deste mês, em meio a um contexto geopolítico tenso com Israel.
O Brasil, embora não seja membro do comitê que debateu o tema na ONU, participou da reunião e expressou preocupação com a violação do acordo do país-sede. A expectativa é de que, nesta edição da Assembleia Geral, países europeus como França e Reino Unido avancem no reconhecimento formal do Estado palestino — pauta à qual os EUA e Israel se opõem firmemente.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil